top of page

 

 

Linha 20-Rosa: o metrô que precisa passar e acabou !!! Fim de papo.

Marcos Galesi, jornalista e especialista em transportes

MTB 83846/SP

05/11/2025​​​

​​​

artigo03122025.jpg

Há uma estranha contradição pairando sobre São Paulo. Enquanto o mundo avança sobre trilhos, nós ainda tropeçamos em velhas resistências travestidas de preocupação ambiental. É o caso da Linha 20–Rosa, o projeto que promete ligar Lapa a Santo André, unindo o Oeste ao ABC e costurando uma das conexões mais estratégicas da história da mobilidade paulista.

 

Mas bastou o Metrô divulgar os estudos iniciais para surgir o previsível: moradores dos Jardins se mobilizando contra a obra. Alegam riscos ambientais, desapropriações, ruídos e impacto no “perfil urbano”. Traduzindo: não querem poço de ventilação perto de casa. É a velha síndrome do “sim ao metrô, mas não no meu bairro”.

 

O curioso é que muitos desses opositores amam o metrô de Londres, o de Paris, o de Tóquio. Fazem questão de postar selfies nas estações impecáveis lá fora, mas aqui, quando o progresso bate à porta, correm pra organizar abaixo-assinados. É o típico retrato da incoerência de quem confunde conforto com privilégio.

 

A Linha 20–Rosa não é um capricho. É uma necessidade técnica e social. São Paulo cresce, o trânsito sufoca, os ônibus se arrastam, e a demanda por transporte de massa só aumenta. O metrô não é luxo, é infraestrutura básica. É saúde pública, economia de tempo e ar limpo. A cada nova linha, reduz-se o caos, melhora-se a cidade.

 

Os impactos da obra? Claro que existem. Nenhum túnel nasce sem escavação. Mas o impacto de não fazer é infinitamente maior: congestionamentos, poluição, estresse e perda de produtividade. E isso atinge justamente quem depende do transporte coletivo, a maioria silenciosa que não tem tempo nem espaço para fazer assembleias de condomínio sobre o futuro.

 

O metrô é o pulso da metrópole. E quando um bairro tenta travar esse pulso, ele não defende o meio ambiente, defende o atraso. É preciso coragem política e técnica para seguir adiante, com transparência, mas sem medo de contrariar interesses locais.

 

Enquanto países desenvolvidos ampliam redes, aqui ainda discutimos se vale a pena cavar. Vale, sim. E muito. A Linha 20–Rosa é o futuro sob nossos pés. E quem realmente ama São Paulo sabe: o progresso não pede licença, ele passa.

 

E vai passar, quer queiram ou não.

 

 

São Paulo: o futuro sobre trilhos que o passado já conhecia

Marcos Galesi, jornalista e especialista em transportes

MTB 83846/SP

05/11/2025​​​

​​​

IMG-20251103-WA0004.jpg
IMG-20251103-WA0005.jpg
IMG-20251103-WA0003.jpg
IMG-20251103-WA0002.jpg

Durante boa parte do século XX, São Paulo viveu um tempo em que o apito do trem marcava o compasso do desenvolvimento. De Santos a Presidente Epitácio, de Campinas ao Vale do Paraíba, a malha ferroviária paulista era o esqueleto que sustentava o crescimento econômico e o deslocamento das pessoas.

Hoje, ironicamente, o estado corre atrás de um futuro ferroviário que ele próprio já teve e abandonou.

> A era dourada dos trilhos:

 

No auge, entre as décadas de 1930 e 1950, São Paulo possuía mais de 5 mil quilômetros de ferrovias ativas. Companhias lendárias como a São Paulo Railway, a Companhia Paulista, a Mogiana, a Sorocabana e a Central do Brasil cruzavam o território paulista ligando cidades grandes e pequenas, interior e capital, litoral e serra.

Era uma rede integrada, eficiente e, sobretudo, civilizatória.

Os trens regionais faziam o papel que hoje tentamos resgatar com o Trem Intercidades, o SP Nos Trilhos e os projetos de VLTs e ligações metropolitanas.

 

Mas o progresso mudou de rumo. A partir dos anos 1960, o automóvel e o ônibus viraram símbolo de modernidade. As ferrovias, tidas como antiquadas, foram perdendo espaço e manutenção. Linhas foram desativadas, estações demolidas, e a FEPASA, criada em 1971 para unir as companhias remanescentes, resistiu até meados dos anos 1990 quando a lógica rodoviária venceu.

 

> Trilhos esquecidos, futuro possível:

 

Muitos dos trilhos que hoje dormem sob o mato poderiam ser reativados. São quilômetros de infraestrutura pronta (pontes, túneis, estações)que pedem apenas modernização e vontade política.

Trechos como Campinas–Ribeirão Preto, Sorocaba–Itapetininga, Mogi das Cruzes–São José dos Campos e Santos–Juquiá–Cajati são verdadeiros corredores naturais para trens regionais modernos.

Somados aos novos projetos do Programa SP Nos Trilhos, poderiam reconectar o estado em uma malha ferroviária integrada, dando mobilidade de verdade às pessoas e competitividade às regiões.

 

> A convergência do antigo e do novo:

 

O Trem *Intercidades* São Paulo–Campinas, o Eixo Leste para o Vale do Paraíba e o projeto Santos–Cajati simbolizam o renascimento dos trilhos. Mas para que São Paulo atinja um patamar digno de sua história, é preciso ir além das novas concessões:

reaproveitar o legado da antiga FEPASA, usar a tecnologia a favor e aplicar o mesmo espírito que guiou os engenheiros ingleses na Serra do Mar em 1867.

Modernizar sem apagar o passado, eis o segredo.

> O impacto de uma São Paulo ferroviária:

 

Um sistema ferroviário de passageiros eficiente significaria:

 

Menos carros nas rodovias;

 

Redução expressiva de emissões;

 

Desenvolvimento regional equilibrado;

 

E uma reaproximação cultural das cidades paulistas, que voltariam a se olhar pelos trilhos e não pelos pedágios.

 

Transformar São Paulo num estado conectado sobre trilhos é resgatar a identidade de um povo que cresceu ouvindo o som metálico das locomotivas.

É entender que sustentabilidade não é apenas eletrificar ônibus — é reconstruir o caminho que já foi o mais limpo, eficiente e elegante: o ferro.

 

> Conclusão:

 

São Paulo não precisa reinventar o futuro. Ele já está nos trilhos, alguns novos, outros centenários.

Se o governo e a sociedade compreenderem o poder simbólico e prático das ferrovias, poderemos dizer, sem medo de exagero, que o século XXI será o século do renascimento ferroviário paulista.

Um retorno ao passado que aponta o caminho do amanhã.

 

 

 

Rochas raras revelam os segredos da Terra sob os trilhos da futura Linha 20-Rosa

Marcos Galesi, jornalista e especialista em transportes

MTB 83846/SP

24/10/2025​​​

​​​

artigo24102025.jpg

 

Os estudos geológicos realizados pelo Metrô de São Paulo para o projeto da nova Linha 20-Rosa trouxeram à tona um achado digno de museu de ciências: rochas metamórficas raras, como micaxistos, gnaisses e milonitos, foram identificadas entre 46 e 52 metros de profundidade na área da futura Estação Portugal, em Santo André. O que para muitos é apenas pedra, para a geologia é história viva da formação do planeta.

Essas rochas não nasceram assim. Elas são o resultado de transformações intensas, provocadas por pressões e temperaturas colossais, que atuaram durante milhões de anos. São as cicatrizes da crosta terrestre — registros materiais de antigos movimentos tectônicos e eras geológicas passadas. Encontrá-las em meio a um ambiente urbano denso como o ABC é como achar um fóssil em meio a arranha-céus.

 

O micaxisto, por exemplo, é uma rocha brilhante, formada por minerais de mica, que denuncia ambientes de metamorfismo profundo. O gnaisse, com suas faixas claras e escuras, é um clássico das rochas mais antigas da Terra — costuma ser o embasamento sobre o qual as cidades paulistas se erguem. Já o milonito é o testemunho de antigas falhas geológicas, formadas quando a crosta foi literalmente esmagada e deformada por esforços tectônicos. É, em termos simples, o registro físico de antigos “terremotos” continentais.

 

A raridade dessas formações se explica: elas se encontram geralmente a grandes profundidades, preservadas sob camadas de solo e sedimentos mais jovens. Só aparecem quando a engenharia moderna cava fundo — e o Metrô, ao fazer suas sondagens, acaba revelando capítulos que estavam enterrados há centenas de milhões de anos. Em São Paulo, essas descobertas mostram como a cidade está apoiada sobre um dos terrenos geologicamente mais antigos e estáveis do país: o Escudo Cristalino Brasileiro.

 

Segundo o Metrô, as rochas encontradas não representam riscos nem alteram o cronograma das obras. Pelo contrário, as informações são incorporadas ao projeto para definir soluções técnicas específicas de escavação e revestimento. A previsão é que o Projeto Básico da Linha 20-Rosa seja concluído até o final de 2026.

 

Com 33 quilômetros de extensão, a nova linha ligará a zona oeste da capital aos municípios de Santo André e São Bernardo do Campo, beneficiando mais de 1,3 milhão de passageiros por dia. Mas antes de transportar pessoas, a Linha 20 já transporta conhecimento — revelando que, sob os trilhos do futuro, repousam memórias profundas da Terra. Cada metro escavado é também um mergulho no passado, lembrando que o progresso, quando bem planejado, pode caminhar lado a lado com a ciência e a história do planeta.

Fonte Jornal Metrópoles

bottom of page