top of page
Arte: Marcos Galesi

​​

Fim do Serviço 710 e o início da TIC Trens:

Barra Funda se torna o maior

hub ferroviário de São Paulo

Marcos Galesi, jornalista e especialista em transportes

MTB 83846/SP

20/08/2025​​​

​​​

 

O dia 28 de agosto de 2025 marca uma mudança histórica no transporte ferroviário paulista. O tradicional Serviço 710 da CPTM, que durante anos integrou as linhas 7-Rubi e 10-Turquesa em uma viagem direta entre Jundiaí e Rio Grande da Serra, chega ao fim. A extinção desse serviço abre espaço para uma nova configuração operacional, resultado da concessão de linhas e da entrada em cena de operadores privados no sistema metropolitano.

 

A partir dessa data, a operação passa a ser dividida entre companhias distintas. A TIC Trens assume oficialmente a Linha 7-Rubi, que passa a ligar a Barra Funda a Jundiaí. A mesma concessionária será responsável pelo futuro Trem Intercidades (São Paulo–Campinas), projeto de alta expectativa para a região. Já a Linha 10-Turquesa continuará sob gestão da CPTM, mas com novo ponto inicial: da Barra Funda até Rio Grande da Serra.

 

Outra mudança significativa é a integração da Linha 11-Coral, agora sob responsabilidade da Trívia Trens, também partindo da Barra Funda e atendendo até Estudantes, em Mogi das Cruzes. A mesma operadora será responsável pela Linha 13-Jade, que conecta São Paulo ao Aeroporto de Guarulhos. A esse conjunto soma-se ainda a Linha 8-Diamante, operada pela ViaMobilidade/Motiva, consolidando o novo arranjo ferroviário.

 

O ponto central dessa reconfiguração é a Estação Palmeiras-Barra Funda, que se firma como o maior hub ferroviário da Região Metropolitana de São Paulo. A partir dela, o passageiro terá acesso a seis linhas de diferentes operadores:

 

Linha 3-Vermelha (Metrô)

 

Linha 7-Rubi (TIC Trens)

 

Linha 8-Diamante (ViaMobilidade/Motiva)

 

Linha 10-Turquesa (CPTM)

 

Linha 11-Coral (Trívia Trens)

 

Linha 13-Jade (Trívia Trens)

 

 

Esse novo arranjo reposiciona a Barra Funda não apenas como um ponto de embarque, mas como um verdadeiro coração ferroviário da capital, capaz de integrar diferentes modais e operadoras em um só espaço. O que antes era apenas um terminal de baldeação ganha o status de hub metropolitano, com impacto direto na vida de milhões de paulistas.

 

O fim do Serviço 710 representa, assim, o encerramento de uma era e o início de outra. A integração direta entre as linhas 7 e 10 dá lugar a um sistema mais segmentado, mas também mais alinhado às concessões e projetos de modernização que vêm sendo implementados. A chegada da TIC Trens e da Trívia Trens ao lado da CPTM e do Metrô inaugura uma nova fase: a de uma rede ferroviária plural, na qual operadores diferentes dividem o mesmo espaço e, juntos, redesenham a mobilidade sobre trilhos em São Paulo.

 

Mais do que uma mudança operacional, trata-se de um novo capítulo da história ferroviária paulistana — um capítulo que começa pela Barra Funda, agora erguida como símbolo de conexão, modernidade e esperança de um transporte público mais eficiente para o futuro.

​​

Ferrovias Contemporâneas e o Futuro no Brasil:

Um Salto de Qualidade

Marcos Galesi, jornalista e especialista em transportes

08/08/2025​​​

​​​

As ferrovias sempre desempenharam um papel crucial no desenvolvimento econômico e social das nações. No Brasil, apesar de um histórico rico de transporte ferroviário, a infraestrutura ferroviária ainda apresenta desafios significativos. No entanto, com a fusão de inovações tecnológicas e necessidades emergentes, as ferrovias contemporâneas e do futuro têm o potencial de impulsionar um verdadeiro salto de qualidade no transporte e na logística nacional.

 

### Ferrovias Contemporâneas

 

Atualmente, as ferrovias brasileiras transportam uma significativa parcela das commodities do país, como soja, minério de ferro e açúcar. No entanto, várias ferrovias estão operando com infraestrutura defasada, o que resulta em ineficiências no transporte, custos elevados e impactos negativos no meio ambiente.

 

**Principais desvantagens:**

- **Manutenção Inadequada:** Muitas linhas estão mal conservadas, o que afeta a segurança e a velocidade dos trens.

- **Integração Limitada:** A falta de intermodalidade entre ferrovias, rodovias e portos dificulta a logística eficiente.

- **Esforço de Modernização:** Embora haja um aumento na modernização de certas linhas, muitas ainda dependem de tecnologias ultrapassadas.

Arte: Marcos Galesi

### Ferrovias do Futuro

 

O futuro das ferrovias brasileiras pode ser brilhante e repleto de inovação. Aqui estão algumas tendências que podem transformar o setor:

 

1. **Tecnologia de Ponta:** A implementação de sistemas de controle automatizado e sensores inteligentes pode melhorar a segurança e eficiência do transporte ferroviário.

 

2. **Foco na Sustentabilidade:** O uso de trens elétricos e o aumento do investimento em energia renovável podem reduzir significativamente a pegada de carbono do transporte ferroviário.

 

3. **Intermodalidade Eficiente:** O desenvolvimento de terminais que integrem diferentes modos de transporte (ferroviário, rodoviário e aquaviário) vai otimizar a logística, facilitando o deslocamento de mercadorias.

4. **Expansão da Malha Ferroviária:** Investimentos em novas linhas, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte, que são ricas em recursos, irão conectar ainda mais comunidades e mercados, potencializando a economia local.

 

5. **Inovação em Cargas:** O uso de tecnologias de rastreamento e logística em tempo real permitirá um monitoramento mais eficaz das mercadorias, aumentando a segurança e confiabilidade do transporte.

 

### O Salto de Qualidade

 

Ao adotar essas inovações, o Brasil poderá não apenas melhorar sua infraestrutura ferroviária, mas também transformar o transporte de cargas em uma solução mais econômica, eficiente e sustentável. Além disso, a revitalização das ferrovias poderia gerar empregos, impulsionar o turismo e provocar um renascimento regional em áreas rural e urbana, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento.

​​

Quando o Trem Muda de Dono: O Futuro da CPTM nas Mãos da Iniciativa Privada

Marcos Galesi, jornalista e especialista em transportes

04/07/2025​​​

​​​

> > >Uma Ferrovia em Transformação

 

Desde sua criação em 28 de maio de 1992 a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) se consolidou como peça fundamental na mobilidade urbana da Região Metropolitana de São Paulo. Nascida da fusão de trechos operados anteriormente por empresas federais e estaduais a CPTM foi criada para unificar, modernizar e expandir os serviços ferroviários no estado.

Ao longo das décadas, a estatal promoveu melhorias expressivas no sistema de trens, com investimentos em infraestrutura, renovação da frota, integração com o Metrô e expansão da malha. Porém, também enfrentou limitações orçamentárias, desafios de modernização e problemas de gestão pública.

 

Nos últimos anos, o Governo do Estado de São Paulo tem adotado o caminho da concessão à iniciativa privada. Foi o início de uma nova era — e com ela surgem debates: quem ganha, quem perde e o que muda quando o trem muda de dono?

> > > O que motivou a privatização?

 

O governo estadual argumenta que a concessão das linhas é motivada por três fatores principais:

 

- Falta de recursos públicos: A CPTM depende do orçamento estadual para operação e investimentos. Com demandas crescentes em áreas como saúde, segurança e educação, o transporte público nem sempre recebe os recursos necessários;

 

- Busca por eficiência e modernização: A gestão privada é vista como mais ágil, flexível e focada em desempenho. A ideia é que empresas especializadas consigam melhorar a qualidade dos serviços, com mais rapidez e menos burocracia;

 

- Exemplos nacionais e internacionais: O modelo de concessão já é usado no Metrô (como nas Linhas 4-Amarela e 5-Lilás), e em outras cidades e países, sendo visto como uma solução para revitalizar sistemas sobre trilhos.

 

> > > As novas operadoras privadas

 

As mudanças já estão em curso e novas operadoras foram escolhidas para assumir parte do sistema:

 

- TIC Trens: Vencedora da concessão da Linha 7-Rubi, que liga a Luz a Jundiaí, e também responsável pela futura operação do Trem Intercidades, ligando São Paulo a Campinas. A operação da Linha 7 será assumida em setembro de 2025;

 

- TRIVIA Trens: Ficará com as Linhas 11-Coral (Luz – Estudantes), 12-Safira (Brás – Calmon Viana) e 13-Jade (Eng. Goulart – Aeroporto Guarulhos), assumindo a gestão a partir de 2026;

 

- Além disso, já se fala na concessão futura da Linha 10-Turquesa e da nova Linha 14, completando o processo de desestatização da CPTM.

 

 

> > > O lado positivo da concessão

 

Defensores da privatização apontam diversos benefícios potenciais:

 

- Investimentos diretos e imediatos: As empresas assumem o compromisso de investir bilhões em renovação da frota, sistemas de sinalização, reformas de estações e modernização da operação;

 

- Qualidade e desempenho: O setor privado costuma operar com metas rígidas de desempenho, como pontualidade, conforto e eficiência, que impactam diretamente na remuneração da empresa;

 

- Alívio ao Estado: Com a concessão, o governo reduz gastos operacionais diretos e pode direcionar recursos para projetos estruturais, planejamento e expansão da malha ferroviária.

 

> > > O lado negativo da concessão

 

Mas os riscos e problemas também são reais e já sentidos:

 

- Falhas recorrentes em concessões anteriores: As linhas 8 e 9, concedidas à ViaMobilidade, enfrentam constantes falhas, atrasos, incidentes e crescente insatisfação dos usuários. Isso acendeu o sinal de alerta para as novas concessões;

 

- Redução da transparência: Empresas privadas não têm a mesma obrigação de prestar contas como as estatais. O acesso a informações se torna mais restrito e a fiscalização, mais complexa;

 

- Risco de precarização e tarifação: Mudanças de gestão podem afetar trabalhadores (demissões, terceirizações), além do temor de reajustes tarifários no futuro, caso o estado perca controle sobre os valores praticados.

 

 

> > > E a população no meio disso tudo?

 

Quem depende do trem todos os dias se torna refém de decisões tomadas longe do seu alcance. A população espera — com razão — melhorias, mas carrega dúvidas sobre o futuro do serviço:

 

- As tarifas vão continuar acessíveis?

 

- Haverá melhorias reais no dia a dia ou apenas mudanças cosméticas?

 

- O passageiro terá voz para reclamar, sugerir ou cobrar?

 

- A transição para a gestão privada pode ser positiva se houver transparência, fiscalização firme e responsabilidade social. Caso contrário, a população pode pagar a conta da pressa e da falta de planejamento.

 

 

> > > Conclusão: Quem deve ser o dono do trem?

 

A privatização da CPTM é um movimento que muda mais do que a estrutura operacional — muda o contrato com a população. Coloca em disputa a visão de transporte como serviço público essencial x negócio lucrativo.

 

Quando o trem muda de dono, não se muda apenas quem segura a chave do centro de controle — muda o jeito como o passageiro é visto: como cidadão ou como cliente.

 

A resposta para o sucesso ou fracasso dessas concessões estará no cotidiano do usuário: no tempo de espera, na segurança da viagem, na qualidade do atendimento e na escuta ativa da população. Porque no fim, quem de fato “possui” o trem é quem depende dele todos os dias para viver.

bottom of page